No pain, no gain !

Hoje vim chorando no ônibus, ao voltar do trabalho. Uma mente e um corpo já cansados não precisavam de mais nada para explodir. Estava levando tudo a panos quentes, jogando a sujeira pra baixo do tapete: eu estava esquecendo de mim. Me esqueci que por trás da garota forte e durona, existe uma menininha que dorme abraçada com o seu Buzz Lightyear.

Uma paciente já estressada ligou no consultório para marcar consulta. Eu tinha mil guias pra encaminhar pra sala do doutor; no telefone, ela queria consulta “ pra ontem “ e é claro, eu disse com toda a educação do mundo que não tinha, mas eu poderia ligar pra ela caso houvesse desistência na agenda. Sem ao menos esperar eu terminar de falar, soltou seus berros me xingando, como se eu tivesse culpa da agenda estar lotada. Ela ainda me disse que estava pagando, que aquilo não era “SUS”. Eu tive vontade mandar a digníssima senhorita, ir tomar no meio de suas nádegas, mas bem no meínho mesmo. Ela, depois de descarregar a sua falta de sexo em mim, finalizou dizendo que EU, eu LAÍS ZOTELLI, que nunca na minha vida faltei com educação com paciente algum da clínica, era INCOMPETENTE. Agora, perguntas: Sou incompetente porque a agenda estava lotada ?? Sou obrigada a tirar alguém da agenda e marca-la, porque ela está pagando ?? Só porque ela está pagando, ela é melhor que alguém que passa em consulta pelo convênio ?? O problema dela era mais grave do que o dos outros 30 pacientes marcados ??

Enfim, há algumas pessoas que jogam na minha cara que eu trabalho pra comprar sapatos e mal fazem idéia que o dinheiro que eu ganho com o meu esforço e dedicação, é pra pagar o meu colégio. Falo isso com orgulho pois eu sei o que é chegar tarde em casa com dor de cabeça, cansada e irritada e ter de estudar trigonometria pra prova das 7:15 do outro dia. Vejo tantos “filhinhos de papai” jogando o dinheiro dos seus pais pela janela, tirando notas horríveis, sendo reprovados. Fico indignada. Não dão um mínimo valor pro esforço dos pais. Hoje eu sei o quanto é difícil estudar numa escola melhor e ter que dar duro pra poder ter isso. Sou bastante feliz por poder comprar minhas coisas, não ter que pedir nada pros meus pais e as vezes ajudá-los quando precisam. Ver um sapato no shopping e poder comprar, uma roupa, um tênis. Mas eu sei o quanto eu me esforço por isso. Sei das dores de cabeça, dos estresses, das madrugadas estudando, dos esporros que levei de pessoas que nem conheço. Sei como faz falta não poder ter meus amigos junto de mim quando eu tenho vontade de gritar e chorar. Isso se chama crescer e crescer exige novas responsabilidades. Responsabilidades acarretam a falta de tempo. Mas a vida é essa aí, pra todos. Aliás, pra maioria. E pensando bem, eu não queria ter nascido em um berço de ouro. Agradeço aos meus pais a educação e o carinho que me deram. Agradeço por me mostrarem cedo que a vida é difícil mesmo, e eu devo começar a correr atrás agora. Se sou o que sou, é por tudo que passei e ainda passo. E eu não quero ser rica e bem sucedida, eu só quero ser feliz. Eu só quero ser alguém. Eu quero aprender a me dar com as situações, com os problemas que vão surgir no meu caminho daqui pra frente.

As pessoas acham que porque tem mais dinheiro que outros, podem mandar no mundo e passar por cima de todos. Eu não quero ter dinheiro pra rasgar, dar e vender. O dinheiro modifica as pessoas.

Às vezes reclamo de tudo e tenho vontade de largar mão de tudo. Mas é tudo da boca pra fora. Quando eu me proponho a fazer alguma coisa, eu vou até o fim. “ È preciso que eu suporte duas ou três larvas se quiser conhecer as borboletas “.